Construção e avaliação de um eletrodo tubular sensível ao íon hidrogênio como
detector em sistemas de análise em fluxo
2.1. Instrumentos e acessórios
O módulo de análise era constituído de uma bomba peristáltica Ismatec modelo
IPC-8, equipada com tubos de bombeamento de tygon de diferentes diâmetros
internos; um injetor-comutador automático18; um potenciômetro CRISON, modelo
2002, equipado com um eletrodo de referência de Ag/AgCl com dupla junção da
ORION, modelo 900029, com uma solução de KNO3 10% (m/v) no compartimento
externo; um eletrodo tubular sensível ao íon H3O+; suportes de acrílico para
adaptação dos eletrodos19; um registrador potenciométrico Radiometer, modelo
REC 61; tubos de polietileno de 0,8 mm de diâmetro interno para construção de
reatores e alças de amostragem; válvulas solenóides de 3 vias (NResearch
161T031); um microcomputador IBM 486 equipado com uma interface PCL-711S
(American Advantech Corp.) e uma interface eletrônica para acionamento das
válvulas solenóides. A comutação do injetor-comutador e o acionamento das
válvulas solenóides eram efetuadas pelo microcomputador, empregando um
"software" escrito em Quick BASIC 4.520.
2.2. Soluções
Água destilada e desionizada foi utilizada no preparo das soluções. As soluções
de referência empregadas eram preparadas a partir do tampão universal descrito
por Perrin e Dempsey21: tetraborato de sódio 5,7 mmol L-1; fosfato dissódico
monoácido 20 mmol L-1 e citrato trissódico 13 mmol L-1. Foram feitas soluções
para pH 3,0; 4,0; ...; 12,0, ajustando-se com ácido clorídrico ou hidróxido de
sódio. Com esta composição, a intensidade iônica das soluções era de
aproximadamente 0,1 mol L-1. Diariamente, antes de iniciar os experimentos,
determinava-se o pH destas soluções empregando-se eletrodo de vidro e um
potenciômetro com resolução de 0,01 unidades de pH. Previamente o potenciômetro
era calibrado com soluções tampão da Merck (pH 4,0 e 7,0).
Na avaliação dos eletrodos tubulares a solução transportadora utilizada era
obtida diluindo-se 100 vezes a solução tampão e ajustando-se o pH para 3,5.
Para se avaliar o limite inferior de resposta linear do eletrodo, foi utilizada
uma solução transportadora NaOH 0,01 mol L-1e intensidade iônica ajustada com
uma solução de NaCl 0,1 mol L-1. Neste estudo, as soluções de referência foram
preparadas adicionando-se uma solução de HCl na solução transportadora até se
obter diferentes valores de pH. Para cada valor de pH, era registrada a leitura
do sinal transiente referente à diferença do potencial.
As soluções dos cátions e ânions interferentes em potencial, Na+,K+, Li+, NH4+,
Mg2+, Ca2+ e Cl-, F-, Br-, NO3-, SO42-, CH3COO- (0,01; 0,1; 0,5; 1,0 mol L-1),
foram preparadas dissolvendo-se os respectivos sais de cloreto e sódio em água.
Estas soluções foram empregadas na avaliação dos eletrodos de geometria tubular
e convencional.
2.3. Construção dos ISEs de configuração convencional e tubular
2.3.1. Preparação da membrana sensora
A membrana sensora foi preparada seguindo as recomendações sugeridas por Oesch
et alli22 e tinha a seguinte composição: Tridodecilamina (TDDA), (FLUKA) 0,02
g; tetraquis-(p-clorofenil) borato de potássio (KTpcipb) 0,14 g; o-nitrofenil
octil éter (o-NPOE) 1,4 g; e PVC 0,6 g. TDDA e KTpcipB foram dissolvidos em o-
NPOE e, em seguida, adicionaram-se PVC e 5 mL de tetrahidrofurano (THF).
KTpcipb foi usado como aditivo visando a diminuição da resistência das
membranas e a extensão das interferências aniônicas.
2.3.2. Preparação do suporte condutor
O suporte condutor onde as membranas eram aplicadas diretamente, foi preparado
misturando-se 0,14 g de resina epóxi à base de bisfenol (Araldite, Ciba-Geigy
S.A), 0,24 g de grafite (granulometria 50 mm, Merck) e 0,06 g de endurecedor HR
(álcool benzil isoforonediamina, Ciba Geigy S.A). Esta quantidade era
suficiente para se preparar dois ou três eletrodos quer de configuração
convencional ou tubular.
2.3.3. Construção dos ISEs de configuração convencional
O corpo do eletrodo era constituído por um tubo de acrílico (diâmetros: interno
8 mm; externo 10 mm; comprimento 150 mm) e um anel também de acrílico
(diâmetros: interno 6 mm; externo 8 mm) colado no interior do mesmo a 5 mm de
uma das extremidades, no qual foi fixado o contato elétrico. Para isso,
empregou-se um disco de cobre com diâmetro de 7 mm, soldado a uma das
extremidades do condutor central de um cabo coaxial. Este cabo foi inserido
axialmente no tubo de acrílico de modo que o disco de cobre ficasse encostado
no anel de acrílico. O espaço entre o disco e a extremidade do tubo de acrílico
foi preenchido com a mistura grafite e epóxi cuja preparação foi referida
anteriormente. O eletrodo foi colocado em uma estufa a 70oC durante um período
de 24 horas para o endurecimento da mistura condutora.
A cavidade para aplicação da membrana sensora foi produzida, removendo-se da
superfície externa do grafite-epóxi uma camada de aproximadamente 0,5 mm de
espessura. O corpo do eletrodo foi colocado na posição vertical com a cavidade
para cima (Fig._1)23, depositando-se na mesma a solução da membrana sensora,
gota a gota, empregando-se uma pipeta de Pasteur. A evaporação do solvente
(THF) produziu uma película de PVC sobre a pasta grafite-epóxi. Após evaporação
do THF, esta operação era repetida várias vezes, até se preencher completamente
a cavidade. O eletrodo foi deixado à temperatura ambiente durante 24 horas,
para secagem completa da membrana.
2.3.4. Construção dos ISEs de configuração tubular
Na construção do eletrodo tubular (Fig._2) foi empregado um cilindro de
acrílico oco, com as seguinte dimensões: diâmetro interno de 8 mm, externo 10
mm; e comprimento 7 mm (volume @ 4 mL). Através do orifício lateral (A) foi
inserido o condutor central de um cabo coaxial (B). Neste condutor, foi soldada
uma placa de cobre de 6 x 2 mm, a qual foi ajustada na parede interna do
cilindro de acrílico. O mesmo foi preenchido com a pasta grafite-epóxi,
mantendo-se o cabo coaxial encostado na parede do cilindro (C), para se evitar
contato entre o material condutor do cabo e a membrana sensora. Após um período
de 24 horas a 70 oC para secagem do suporte condutor, os dois lados do cilindro
foram lixados sobre uma superfície plana e, em seguida, recobertos com uma
camada de cola Araldite não condutora para se evitar o aparecimento de
potenciais mistos causados pelo escoamento das soluções por capilaridade. Após
a secagem da Araldite, fez-se um furo de 1 mm de diâmetro no centro do cilindro
no sentido axial (D). Neste canal, foi gotejada a solução da membrana sensora,
empregando-se uma pipeta de Pasteur. Para garantir o recobrimento de toda a
superfície do canal, esta operação foi repetida 10 vezes, esperando-se um
intervalo de 30 minutos entre cada aplicação, para dar tempo à evaporação do
solvente. Após o recobrimento com a membrana sensora o diâmetro interno do
canal era de aproximadamente 0,8 mm.
Na aplicação do sensor, evitou-se a inundação do canal, pois com a evaporação
do solvente poderia ocorrer obstrução do mesmo. Após completar estas operações,
deixou-se o eletrodo em repouso, em temperatura ambiente durante 24 horas, para
garantir total evaporação do solvente. É inevitável que durante a aplicação da
solução da membrana sensora, um excesso escorra sobre a superfície externa do
grafite-epóxi. Após a secagem este excesso era cuidadosamente removido.
Finalizadas estas etapas, efetuaram-se as conexões elétricas e a montagem do
eletrodo, conforme mostra a figura_324.
O eletrodo foi encaixado em um suporte de acrílico construído para esta
finalidade, permitindo que, ao ser acoplado ao módulo de análise, a solução
transportadora fluísse através do canal. Na figura_419 são mostrados os
detalhes da construção e da montagem.
2.3.5. Condicionamento dos eletrodos íon-seletivos
Após a secagem da membrana sensora dos ISEs tubulares esta era condicionada,
bombeando-se uma solução de HCl 10-3 mol L-1 durante 2 horas. Quando o eletrodo
não estava sendo utilizado, o canal era preenchido com água destilada. Para
evitar a evaporação, fechavam-se as extremidades das luvas de conexão. Ao se
iniciar cada período de trabalho, o eletrodo era recondicionado, bombeando-se
através dele uma solução de HCl 10-3 mol L-1 durante 15 minutos. Os eletrodos
de configuração convencional eram condicionados ou mantidos entre utilizações
imersos em soluções de composição semelhante às referidas para os ISEs de
configuração tubular.
2.4. Avaliação dos eletrodos íon-seletivos
2.4.1. ISE de configuração convencional
As características gerais de funcionamento dos ISEs de configuração
convencional foram avaliadas visando estabelecer, ao longo do trabalho,
comparações sistemáticas com os ISEs de configuração tubular. Nomeadamente,
foram determinadas a faixa de resposta linear, a inclinação das curvas de
calibração, a repetibilidade dos potenciais, o tempo de resposta e o tempo de
vida. Para isto foram efetuadas calibrações repetidas com soluções padrão na
faixa de pH de 4,0 a 12,0. Estes experimentos foram realizados de maneira
convencional, isto é, colocando-se a solução em um copo sob agitação contínua,
e medindo-se a diferença de potencial correspondente.
2.4.2. ISE de configuração tubular
A avaliação do eletrodo de configuração tubular foi realizada empregando-se o
módulo de análise cujo diagrama de fluxos é mostrado na figura_5. O injetor
está na posição de amostragem, a solução de referência (S) está sendo aspirada
através da válvula (V) para preencher a alça de amostragem (L), que define o
volume a ser injetado e o excesso é descartado (D). Deslocando-se o injetor
para outra posição de repouso, o conteúdo da alça de amostragem é deslocado
pela solução transportadora (C) em direção ao ISE tubular. O sinal transiente
correspondente é detectado e traçado em função do tempo pelo registrador
potenciométrico.
Usando esta montagem foram executados experimentos para se avaliar o desempenho
do eletrodo tubular no que se refere à faixa de resposta linear, à inclinação
das curvas de calibração e à estabilidade dos potenciais ao longo do tempo.
Além destes parâmetros, foi determinado o tempo de resposta para as soluções de
referência de pH 5,0 e 11,0 com uma vazão da solução transportadora de 2,5 mL
min.-1.
O tempo de resposta de um detector potenciométrico é um parâmetro importante,
principalmente quando o mesmo é utilizado em sistemas FIA. Para se determinar o
tempo de resposta dos ISEs de configuração tubular, foi projetado o módulo de
análise cujo diagrama de fluxos é mostrado na figura_6.
Na posição indicada nesta figura, as válvulas estão desligadas, e somente a
solução transportadora está sendo bombeada. Nestas condições, tem-se o registro
correspondente ao pH da solução transportadora. Acionando-se as válvulas V1 e
V2 de acordo com o diagrama de tempo, a solução transportadora (C) é desviada
para recuperação (ReC) e em seu lugar, é bombeada a solução de referência (S).
Desligando-se as duas válvulas, interrompe-se o fluxo da solução de referência,
restabelecendo-se o fluxo da solução transportadora. Para se minimizar os
efeitos da pulsação da bomba peristáltica na precisão das medidas, acoplaram-se
amortecedores de pulsos (Am) entre a bomba peristáltica e as válvulas25. A
bobina (B0) aumentava a impedância hidrodinâmica entre o amortecedor de pulsos
e o percurso analítico, melhorando a eficiência do amortecedor.
Para se avaliar o tempo de resposta do eletrodo, foram executados experimentos
programando-se intervalos de tempo de 0,25; 0,50; 1,00; 2,00; 4,00 e 6,00 s
para acionamento das válvulas. Este ciclo foi repetido várias vezes, usando-se
soluções de referência de pH 5,0 e 11,0. Os sinais gerados foram traçados com
registrador potenciométrico em função do tempo.
Os testes que visavam a avaliação da extensão das interferências foram
executados, operando-se o módulo de análise cujo diagrama de fluxo é mostrado
na figura_5, sendo que a válvula (V) é acionada para promover a adição da
solução do íon interferente às soluções de referência. Quando a válvula (V) é
acionada, a solução interferente (I) é aspirada no lugar da solução de
referência (S). O programa de controle foi desenvolvido para acionar a válvula
seguindo o diagrama de tempo (Tv). Assim a alça de amostragem é preenchida com
uma sequência de pequenas alíquotas da solução do interferente separadas por
alíquotas da solução de referência.
A permanência da válvula na posição de aspiração de cada uma das soluções foi
fixada em 0,2 s. Em função do comprimento da alça de amostragem, foram
programados 25 pares de alíquotas das duas soluções para garantir o
preenchimento completo da mesma. Deslocando-se o injetor para a outra posição
de repouso, o conteúdo da alça de amostragem é deslocado pela solução
transportadora (C) em direção ao ISE tubular. O sinal transiente correspondente
é detectado e analogamente registrado. Assim, em cada ciclo, a alça de
amostragem era carregada com a mistura das soluções de referência e do íon
interferente na proporção de 1:1. Em cada conjunto de experimentos envolvendo
as soluções de um íon interferente, o sinal somente do íon principal (H3O+) era
obtido, substituindo-se a solução do íon interferente pela solução
transportadora. A mesma sequência de experimentos foi efetuada para todas as
soluções descritas no item 2.2.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As características gerais de funcionamento dos ISEs de configuração
convencional foram avaliadas por procedimentos tradicionais, efetuando-se as
medidas por processos discretos ("batch"). No caso dos ISEs
tubulares, as mesmas características foram obtidas, usando-se uma solução
transportadora de baixa capacidade tampão ( 10-
5 mol L-1, pH = 3,5), evitando-se que a mesma alterasse a acidez da zona da
amostra, conforme sugerido por outros autores9,26. Embora nestas condições a
intensidade iônica da solução transportadora não seja elevada, o contato
permanente da membrana sensora com uma solução em que o íon H3O+ estava sempre
presente, fornecia uma linha base estável ao longo do tempo. Esta
característica é muito importante para garantir a qualidade dos resultados
obtidos.
O volume da solução da amostra utilizado nestes experimentos era de 200 mL,
enquanto o volume do percurso analítico era de 25 mL, portanto o suficiente
para permitir que a leitura fosse efetuada praticamente em condição de estado
estacionário. Com esta configuração evitava-se que a diferença da intensidade
iônica da solução transportadora afetasse a resposta do eletrodo. Convém
salientar que a leitura correspondente à solução transportadora não foi
considerada na análise dos resultados.
A resposta do ISE de configuração tubular em função da concentração do íon
principal, expressa em valores de pH, é mostrada na figura_7, onde se observa
uma resposta linear no intervalo de pH de 4,0 a 12,0 e inclinação de 51,6 mV
por década de concentração. Estas características se mantinham sem alterações
significativas (< 5,0 mV) pelo menos durante um dia de trabalho. Este
comportamento dispensa, em trabalho de rotina, o recurso das calibrações
sistemáticas.
O desempenho dos ISEs de configuração tubular e convencional ao longo do tempo
foi averiguado traçando-se sucessivas curvas analíticas (com intervalos de 30
min) durante um período de 4 horas. Os resultados obtidos evidenciaram um amplo
intervalo de resposta linear (E = 396,64 - 51,64 pH, r = 0,9998), uma boa
repetibilidade ao longo do tempo (desvio padrão relativo < 4%). Conforme
observado na tabela_1, os resultados não diferem significativamente dos
apresentados pelos eletrodos de configuração convencional, avaliados por
métodos descontínuos.
Considerando-se que em sistemas FIA a detecção é feita com a amostra em
movimento em relação ao detector, impõe-se que o transdutor apresente uma
resposta rápida, para que as medidas possam realizar-se em condições próximas
de tempo real, nomeadamente quando se procuram condições de máxima
sensibilidade. Assim, efetuaram-se experimentos para avaliar o tempo de
resposta do eletrodo tubular (Fig._8). Este parâmetro foi obtido, considerando-
se o intervalo de tempo necessário para o valor do potencial alcançar 95% do
valor correspondente ao estado estacionário. A motivação para adotar este
valor, deve-se ao fato de este critério ter sido empregado na primeira
publicação sobre ISE com membrana plástica e sem solução de referência interna,
onde este parâmetro foi avaliado11.
Visando obter resultados mais independentes possíveis da dispersão da amostra
na solução transportadora, a distância entre o ponto de inserção da solução da
amostra e o eletrodo indicador foi fixada em 10 mm (Fig._6). Com este arranjo,
a solução da amostra ao atingir o detector, apresentava uma concentração muito
próxima à do instante da injeção. A vazão da solução transportadora foi
estabelecida em 66,7 mL s-1, apresentando como resultado um tempo de trânsito
da amostra, entre o ponto de inserção e o eletrodo indicador, de apenas 75 ms.
A partir da figura_8, tomando-se como referência o início dos traçados das
curvas, deduz-se que o intervalo de tempo necessário para o sinal alcançar 95%
do valor do estado estacionário, quando se intercala uma solução de pH = 11,0
foi de aproximadamente 2,8 s. As curvas 1, 2 e 3 não foram consideradas neste
cálculo, pois conforme mostra a figura, as respectivas leituras não alcançavam
um estado estacionário. Na dedução deste tempo de resposta, não foi considerado
o tempo de trânsito da solução de referência, porque o valor encontrado é muito
maior (37 vezes) que o tempo de trânsito. Experimentos análogos foram
executados usando-se uma solução com pH 5,0 e a partir dos resultados,
encontrou-se um tempo de resposta em torno de 2 s. O valor limite de 2,8 s foi
considerado durante o projeto do módulo de análise, pois o intervalo de tempo
para o trânsito da solução de referência através do eletrodo tubular não pode
ser menor que este valor. Esta característica impõe um limite no menor volume
de amostra que deve ser injetado.
A maior velocidade de resposta obtida quando se intercala a solução de pH = 5,0
relativamente à intercalação de soluções de pH = 11,0 é um resultado esperado,
quando se utilizam detectores potenciométricos27.
Para se efetuar a avaliação da extensão das interferências causadas por outras
espécies iônicas, o sistema FIA (Fig._5) foi projetado para efetuar, durante a
amostragem, a mistura da solução principal com as soluções dos íons
interferentes. Foi empregado o processo de amostragem binária28, sendo a alça
de amostragem preenchida com a mistura das duas soluções na razão de 50%. A
vazão de amostragem foi fixada em 33,3 mL s-1 e o intervalo de tempo de
acionamento repetitivo da válvula V (ligada/desligada) foi fixado em 0,2 s.
Deste modo, a alça de amostragem era preenchida com uma sequência de pequenas
alíquotas de amostra (6,7 mL), separadas entre si por alíquotas de igual volume
da solução do íon interferente. Em cada ciclo de análise, foi programada a
amostragem de 25 pares de alíquotas, o que correspondia a um volume de 335 mL.
O volume da alça de amostragem era de 200 mL, e quando o injetor retornava para
a posição de amostragem, estava preenchida com a solução transportadora.
Aspirando-se um volume de 335 mL, evitava-se a contribuição da solução
transportadora para formação de gradientes de pH, pois os primeiros 135 mL eram
descartados.
O comprimento da alça de amostragem era 400 mm, e cada alíquota das duas
soluções ocupava um espaço de 13,4 mm da mesma (30 vezes menor). Nestas
condições uma boa coalescência entre as duas soluções era alcançada durante a
etapa de amostragem, minimizando-se a formação de gradientes de pH. Durante o
deslocamento da zona de amostra para o detector, ocorria mútua dispersão a
partir das duas interfaces de contato entre a solução transportadora e da
amostra. Em consequência, era gerado um gradiente de pH positivo e outro
negativo. Isto poderia dificultar a determinação do tempo de resposta do
eletrodo. Em vista disto, para se obter uma região de leitura constante em
função do tempo (condição de "volume infinito"), fixou-se um percurso
analítico (B1, Fig._5) oito vezes menor que a alça de amostragem.
Com relação à extensão das interferências, verifica-se na tabela_2, que o íon
amônio apresenta interferência mais acentuada, diminuindo a faixa de resposta
linear na zona alcalina. Presumivelmente, isto ocorre devido à conversão do
amônio para amônia, consequentemente alterando o equilíbrio entre os íons H3O+
e OH-.
Quanto aos ânions, maior interferência foi observada para o íon acetato,
provavelmente causada pela formação de sistema tampão no percurso analítico. Em
pH mais baixo observou-se que este efeito era bem mais acentuado o que, em
princípio, confirma esta suposição.
Dentre os ânions estudados, o eletrodo apresentou faixa de resposta linear mais
ampla para o íon sulfato, mesmo quando foi utilizada solução 1,0 mol L-1. Este
comportamento é semelhante ao citado na literatura para eletrodos de
configuração convencional com um sistema sensor de composição semelhante29.
Embora não se tenham realizado experimentos sistemáticos no sentido de
determinar o tempo de vida médio destes ISEs, pode-se dizer que as unidades
desenvolvidas se mantém em boas condições de funcionamento por um período
superior a um ano. Durante este tempo mais de 2.000 medidas foram realizadas em
épocas distintas. Estes resultados confirmam outros anteriormente obtidos com
ISEs de construção semelhante e sensíveis a outras espécies, evidenciando a
vantagem dos processos de construção em que não são utilizados eletrodos com
soluções de referência interna11.
4. CONCLUSÕES
Até onde estamos informados, este é primeira unidade de ISE tubular sensível ao
íon H3O+. Os resultados da avaliação indicaram um bom desempenho, nomeadamente
o que se refere à velocidade de resposta, faixa de resposta linear e tempo de
vida. A geometria tubular, facilita o acoplamento no módulo de análise em
fluxo, resultando em montagens com grande estabilidade mecânica e viabilizando
as implementações das determinações de uma forma robusta. Além disto apresenta
um baixo custo, o que o torna acessível a qualquer laboratório de pesquisa ou
de controle.
A disponibilidade de detectores potenciométricos tubulares constitui uma
importante ferramenta para estudos de características hidrodinâmicas em
sistemas FIA, considerando que o sensor está incorporado no módulo de análise e
não origina perturbação no segmento da solução da amostra.
Em termos gerais, as características de funcionamento dos ISEs de configuração
tubular, em sistemas FIA de baixa dispersão são semelhantes, ou mesmo melhores,
que as dos eletrodos de geometria plana com o mesmo tipo de membrana9,29,
apresentando como vantagem adicional a facilidade de acoplamento.
O tempo de vida das unidades é elevado quando comparado com os dos eletrodos de
construção convencional que incorporam um eletrodo e uma solução de referência
interna. Na maioria dos casos referidos na literatura, nunca se mantém as
características de funcionamento por períodos superiores a 6 meses16,30.
A velocidade de resposta dos ISEs de configuração tubular é perfeitamente
adequada à sua incorporação em sistemas FIA, sendo manifestamente superior à
dos ISE convencionais, devido ao papel condicionador do fluido transportador.
Esta última característica associada ao pequeno volume interno do mesmo
(" 4 mL), tornam-o ideal para acoplamento no percurso analítico em
sistemas FIA. O pequeno volume é uma característica fundamental,
principalmente, para estudos em que seja necessário além da resposta rápida do
sensor, manter inalterada a estrutura da zona da amostra. Por exemplo, em
sistemas com relocação do detector31, teriam como resultado favorável o aumento
da frequência de amostragem.
O conjunto de características referidas permitem prever para o ISE de
configuração tubular um amplo leque de aplicações, designadamente como eletrodo
indicador em titulações em fluxo contínuo. Neste contexto, deve-se salientar
que o sistema proposto fornece informações adicionais relativamente à
capacidade tampão e às constantes de equilíbrio envolvidas.