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EuPTCVHe0873-21592009000600014

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variedadeEu
ano2009
fonteScielo

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Falsa asma: A propósito de um caso clínico

Introdução A maioria dos bócios mediastinicos são extensões de bócios cervicais, denominados bócios mergulhantes1, 3 . Estima-se que 1% dos casos de bócio sejam do tipo bócio mergulhante 6 .

Um bócio completamente intratoracico sem componente cervical e extremamente raro4.

O bócio mergulhante e mais frequente em indivíduos do sexo feminino, com mais de 50 anos de idade3. O quadro clínico e de evolução insidiosa e assintomática em até 65% dos casos6.

Nao se compreendem exactamente os mecanismos que levam a invasão da cavidade torácica pela glândula tiróide. Supõe-se que o tamanho do pescoço, a musculatura cervical hipertrofiada e a cifose acentuada possam ser factores predisponentes6.

A sintomatologia apresentada relaciona-se com a compressão de estruturas adjacentes.

Os sintomas referidos mais comuns são a dispneia e a disfagia progressivas, os relacionados com a sindroma da veia cava superior e com a insuficiência respiratória aguda6.

Podem também surgir tosse, rouquidão, sensação de massa cervical ou estridor.

Este apenas surge quando a via aérea superior apresenta diâmetro inferior a 5 mm1,3, 5 .

O doseamento das hormonas tiroideias e obrigatório, mas e raro encontrar alterações da função tiroideia3,6.

A telerradiografia torácica revela em grande parte dos casos uma massa cervicotoracica sem afectação traqueal4, mas em alguns casos pode observar-se um desvio nítido da traqueia3.

Os exames de eleição para diagnostico e avaliação destas lesões são a TC e a RMN. Na maioria dos casos a cintigrafia tiroidea pode ser diagnostica, mas em alguns casos não contrasta a porção intratoracica da tiroide1,3.

O aspecto caracteristico na TC e uma massa de contornos regulares, no mediastino superior, com áreas quisticas e calcificações grosseiras3.

Nos tumores volumosos com grande desvio da traqueia recomenda-se a realização de fibroscopia para avaliar o grau de malacia da traqueia3.

Os bócios sintomáticos ou grandes podem ser submetidos a tratamento cirurgico4.

Alguns autores recomendam excisão cirúrgica mesmo em doentes assintomáticos devido a probabilidade de encontrar lesões malignas (2-20% dos submetidos a intervenção cirúrgica), pelo potencial de obstrução da via aérea e por se tratar de um procedimento cirúrgico relativamente seguro1, com reduzidas taxas de morbimortalidade, baixo índice de complicações e pequena taxa de recidiva6.

As complicações mais comuns oriundas da cirurgia são: a lesão do nervo laríngeo recorrente; o hipoparatiroidismo transitório e a disfonia. Em doentes mais idosos e com elevado risco cirúrgico, a tendência na literatura e a de adoptar conduta conservadora6.

Caso clínico Doente do sexo feminino com 64 anos, antecedentes de hipertensão arterial, asma bronquica, obesidade ligeira e sindroma depressiva. Medicada habitualmente com lisinopril+hidroclorotiazida, furosemida, ramipril, fluticasona+salmeterol, levocetirizina, teofilina, zolpidem, trazadone, lorazepam.

A doente referia queixas de dispneia, desconforto e sensação de aperto cervical anteriores. Tinha tido alguns episódios de tosse seca despertados pelo decúbito dorsal e por vezes acompanhados de tonturas e sudorese. Negava tosse com expectoração, febre ou emagrecimento. O quadro descrito tinha alguns meses de evolução e havia sofrido agravamento na semana previa a vinda ao serviço de urgência.

Ao exame físico não foram encontradas alterações de relevo.

Os exames laboratoriais não revelaram alterações da função tiroideia.

A telerradiografia torácica (Figs. 1 e 2) apresentava alargamento do mediastino superior e marcado desvio para a esquerda da coluna de ar traqueal.

Fig. 1 Telerradiografia do tórax PA (06-04-2006). Alargamento do mediastino superior e desvio para a esquerda da coluna de ar traqueal

Fig. 2 Telerradiografia do tórax perfil direito (06 -04 -2006). Alargamento do mediastino superior

A tomografia computorizada cervical e torácica (Fig. 3) mostrou um apreciável aumento do volume da tiróide, particularmente do lobo direito, comprimindo acentuadamente o segmento faringolaringeo, condicionando acentuada redução do seu lúmen. Observava-se ainda um volumoso bócio mergulhante, deprimindo a porção inicial da traqueia. O estudo funcional respiratório, tal como o electrocardiograma, eram ambos normais.

Fig. 3 (a,b,c,d) Tomografia computorizada cervical e torácica (26-04-2006).

TC cervical Apreciável aumento do volume da tiróide, particularmente do lobo direito, comprimindo acentuadamente o segmento faringo laríngeo, com acentuada redução do lúmen. TC torácica Volumoso bócio mergulhante deprimindo a porção superior da traqueia

A doente foi encaminhada para a cirurgia torácica, onde foi submetida a tiroidectomia parcial. O resultado anatomopatologico revelou um bócio nodular não tóxico. Verificou-se o desaparecimento das queixas da doente e a normalização da telerradiografia do torax PA e perfil esquerdo após intervenção cirúrgica (Fig. 4).

Fig. 4 Telerradiografia do tórax PA após tiroidectomia parcial (11-07-2006).

Coluna de ar traqueal centrada e sem desvios. Não se observa alargamento do mediastino superior

Discussão No caso apresentado pelos autores, a doente referia sintomas que se relacionavam com o bócio mergulhante: dispneia; tosse e desconforto cervical anterior, com acentuação no decúbito. Estas queixas levaram ao diagnostico de asma brônquica, e a doente encontrava-se medicada com broncodilatadores e corticosteroides inalados sem se verificar beneficio sintomático.

Na obstrução da via aérea superior e traqueia, por vezes constata-se agravamento dos sintomas com as mudanças de posição do corpo, nomeadamente o decúbito, tal como o caso relatado1. Em determinados caso, essa obstrução pode ser causa de apneia do sono1, 7 .

Um corpo estranho endobronquico ou uma obstrução extrinseca da via aérea podem ser erradamente tratados como uma asma bronquica1.

Nos exames complementares realizados no serviço de urgencia foi possível suspeitar da existência de uma massa mediastinica superior, pois eram evidentes o desvio da traqueia e o alargamento do mediastino superior.

A detecção de massa mediastinica na telerradiografia torácica e um achado comum4,6, mas em alguns casos pode observar-se um desvio nítido da traqueia3.

A TC torácica e cervical veio a confirmar a existência de uma grave compressão extrínseca da porção inicial da traqueia condicionada pela existência de um volumoso bócio mergulhante.

Na obstrução da via aérea superior e traqueia as alterações fisiopatologicas se tornam aparentes no estudo da função pulmonar quando estamos perante uma obstrução severa1. A espirometria desta doente era normal.

Era evidente a indicação para intervenção cirurgica devido sintomatologia apresentada pela doente. Após tiroidectomia parcial verificou-se uma completa resolução dos sintomas descritos.


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