Ginecomastia unilateral por antagonista dos canais de cálcio
CARTA À DIRECTORA
Ginecomastia unilateral por antagonista dos canais de cálcio
Unilateral gynecomastia caused by a calcium-channel blocker
Filipe Perneta,* Mónica Caldeira,* António Caldeira Ferreira**
*Internos da formação específica de Medicina Interna, Serviço de Medicina
Interna, Hospital Central do Funchal
**Chefe de Serviço de Medicina Interna, Serviço de Medicina Interna, Hospital
Central do Funchal
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Exma. Sra. Diretora da Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar,
A patologia da mama no sexo masculino é uma entidade rara na prática clínica
diária, podendo eventualmente requerer uma abordagem exaustiva e invasiva para
o seu diagnóstico. O aumento de volume mamário pode ser benigno ou maligno.
As causas de benignidade são múltiplas; porém, a ginecomastia é a entidade
nosológica mais frequente. Esta consiste na hiperplasia difusa do estroma e dos
ductos, sendo um achado semiológico frequente pois afeta cerca de 1/3 a 2/3 dos
homens com idade superior a 40 anos.1 As etiologias mais frequentes são de
origem endócrina, farmacológica e idiopática.1,2
A propósito de patologia mamária benigna no homem, os autores gostariam de
apresentar o caso de um homem de 64 anos, raça caucasiana, bancário, natural e
residente na Madeira. Tinha antecedentes patológicos de hipertensão arterial
essencial, dislipidémia e rinite alérgica e encontrava-se medicado com
candersartan/hidroclorotiazida 16/12,5 mg id, nifedipina 30 mg em libertação
prolongada id, levocetirizina 5 mg id e atorvastatina 20 mg id. Foi seguido em
consulta de Medicina Interna por aparecimento progressivo, ao longo de 3 meses,
de nódulo mamário à esquerda, doloroso e com 4 cm de diâmetro.
Ao exame objetivo, tratava-se de um nódulo mole, de consistência elástica, não
aderente aos planos profundos e doloroso à palpação. Não havia sinais
inflamatórios observáveis no tegumento imediatamente superior nem alterações
analíticas assinaláveis.
A ultrassonografia mamária evidenciou um nódulo de 4 cm de diâmetro, de
contornos regulares, sem calcificações e não aderente aos planos profundos. A
mamografia confirmou-o, revelando ginecomastia unilateral assimétrica do tipo
nodular. Após revisão de possíveis causas para o problema, optou-se por
suspender a terapêutica com nifedipina. Estima-se que 10-25% de casos de
ginecomastia tenham origem farmacológica,3 sendo que esta é um efeito adverso
raro, porém reconhecido, da terapêutica com nifedipina (descrita em <1% de
casos).4
O fármaco foi suspenso, o que resultou na regressão completa do quadro clínico
em dois meses.
Os autores relembram a ginecomastia, além de mero problema estético, como
entidade a investigar e cujo diagnóstico diferencial se impõe, particularmente
pela necessidade de exclusão de malignidade. Com a generalização de terapêutica
anti-hipertensora (nomeadamente inibidores da enzima de conversão, antagonistas
dos recetores da aldosterona e antagonistas dos canais de cálcio), relembram
igualmente a possibilidade de se tratar de efeito adverso farmacológico,
solucionável pela modificação de terapêutica.