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variedadeEu
ano2013
fonteScielo

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La présentation de soi: Ethos et identité verbale Ruth Amossy, (2010). La présentation de soi ' Ethos et identité verbale, Paris, Presses Universitaires de France, 235 páginas.

Micaela Aguiar

A investigação em torno do conceito de ethos não constitui uma questão nova. Da Retórica à Sociologia, a noção de ethos tem sido continuamente objeto de inúmeras discussões intradisciplinares e interdisciplinares.

O interesse linguístico no conceito de ethos recentemente se manifestou. No quadro da Análise Linguística do Discurso, Dominique Maingueneau (1984) é o primeiro a desenvolver uma teoria em volta desta noção. Desde a década de 80, os estudos sobre o ethos têm proliferado, com propostas de novas perspetivas e abordagens teóricas; designadamente, D. Maingueneau (1991, 1993, 1999), R.

Amossy (1994, 1999), Rabatel (1997, 1998), Kerbrat-Orecchioni (1980), entre outros, têm dado contributos indispensáveis para a consolidação do conceito de ethos enquanto objeto de direito no âmbito da investigação linguística dos discursos.

Com a publicação de La présentation de soi ' Ethos et identité verbale, em 2010, Ruth Amossy, Professora Emérita do Departamento de Estudos Franceses da Universidade de Tel-Aviv, articula o conceito de ethos com a noção de identidade verbal. O objetivo do estudo de R. Amossy centra-se na análise dos mecanismos discursivos de que o locutor faz uso na construção de uma identidade, no seu posicionamento social e no seu desejo de influenciar o outro.

Esta obra distingue-se não pelo seu contributo no quadro da investigação sobre o ethos, mas, igualmente, pela apresentação de um panorama geral dos estudos realizados em torno deste tema nas últimas décadas.

A obra estrutura-se em duas partes distintas: a primeira compreende os três primeiros capítulos e apresenta os principais fundamentos teóricos em que irá assentar a reflexão em torno do ethos; a segunda abarca os quatros últimos capítulos e centra-se na análise dos mecanismos que contribuem para a construção da imagem de si nas trocas verbais. Esta segunda parte encontra-se organizada em torno do valor dos pronomes pessoais "je", "tu", "il" e "nous" na construção da imagem de si.

No primeiro capítulo, são articulados o conceito de ethos retórico, na herança de Aristóteles, a noção de "présentation de soi" no âmbito da microssociologia de Goffman e de "image de soi" perspetivada no quadro da Análise do Discurso, nomeadamente, pela teoria desenvolvida por Dominique Maingueneau. Considerando a divergência dos conceitos, mas, sobretudo, a sua confluência, é proposta a assimilação da noção de ethos à de "présentation de soi", na sua conceção alargada, ou seja, estendida a todas as trocas verbais.

O segundo capítulo retoma os conceitos de estereótipo e estereotipização desenvolvidos pela investigadora em trabalho anteriores, designadamente, Les idées reçues. Sémiologie du stéréotype (1991), Stéréotypes et clichés. Langue, discours, société (1997), em colaboração com Anne Herschberg Pierrot, eL'argumentation dans le discours (2000). O estereótipo é definido como "une représentation collective figée, un modèle culturel qui circule dans le discours et dans les textes" (2010 :46). Estas representações coletivas constituem uma parte integrante de um dado "imaginaire sociodiscursif" e, nesta medida, encontram-se inseridas numa doxa. Estes modelos culturais que preexistem no imaginário coletivo são analisados como uma parte integrante da construção do ethos. Nesta conceção, o estereótipo é entendido como uma construção de leitura, na medida em que o alocutário reconstrói, tendo por base elementos díspares contidos no discurso, a imagem do locutor em função de um modelo cultural preexistente e o seu próprio conhecimento do mundo.

O terceiro capítulo aborda a questão do ethos pré-discursivo, introduzindo este conceito na teoria desenvolvida em torno do estereótipo e relacionando-o com o ethos discursivo. A imagem pré-discursiva é entendida como "l'ensemble des donnés dont on dispose sur le locuteur au moment de sa présentation de soi" (2010: 73). Neste sentido, o ethos discursivo é perspetivado como uma reação ao ethos pré-discursivo: o ethos que o locutor constrói de si no discurso inclui sempre a imagem que o interlocutor poderá fazer dele, tendo como base a sua inserção numa representação coletiva, num estereótipo. Nesta linha, a re-elaboração do ethos pré-discursivo ocupa um lugar de interesse, especialmente no caso de figuras públicas. Esta problemática encontra-se documentada com variados exemplos, desde o discurso político ao discurso literário.

O quarto capítulo centra-se no pronome pessoal "je" e, como tal, a questão da subjetividade na língua, introduzida no quadro linguístico por E.

Benveniste (1970) e, posteirormente, desenvolvida por Kerbrat-Orecchinoni (1980), é retomada sob a perspetiva da construção do ethos. Segundo a autora, a utilização da primeira pessoa do singular permite não a manifestação da subjetividade no discurso, mas também a de uma imagem de si, na medida em que esta imagem emerge das marcas linguísticas da inscrição do sujeito no seu enunciado.

No quinto capítulo, a construção do ethos é inserida na dinâmica interacional, sendo, assim, perspetivado enquanto um fenómeno de gestão coletiva.

O sexto capítulo trata da problemática das identidades de grupo, da legitimidade do locutor enquanto intermediário da manifestação da identidade de um grupo de indivíduos e da construção de um ethos coletivo.

O último capítulo foca a questão do apagamento enunciativo e da responsabilidade nos discursos de terceira pessoa, centrando-se, concretamente, no discurso científico, filosófico e jornalístico.

La presentation de soi ' ethos et identité verbale é, sem dúvida, uma obra de referência no âmbito dos estudos em torno do ethos. A apresentação sintética dos conteúdos, a variada documentação de casos concretos e a riqueza de temas abordados, tornam este estudo acessível, também, a não especialistas. Esta obra constitui, assim, uma ferramenta indispensável a futuros investigadores na área da Análise Linguística do Discurso.


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