Nota de Abertura
Nota de Abertura
APsicologia do Tráfego, reunindo múltiplos saberes sobre um tema tão vasto como
complexo, acaba naturalmente por ganhar na actualidade uma importância
dramatizada e de particular sensibilidade.
As consequências drásticas em vidas humanas, os gastos no campo da saúde e os
investimentos mundiais no sector rodoviário justificam sempre a procura de
reunir conhecimentos, independentemente das especificidades dos mesmos.
A Ciência Psicológica, à semelhança de outros disciplinas, tem desde há largas
décadas abordado questões deste domínio, onde investigadores do âmbito da
psicologia social ou da psicologia experimental, da psicologia criminal e da
psicologia clínica, ou ainda da psicofisiologia têm oferecido contributos
importantes.
Entre nós escassos têm sido os esforços para fomentar e divulgar trabalhos
científicos acerca da Psicologia do Tráfego. Em 1995, a revistaAnálise
Psicológica(n.º 3, série XIII) dedicou um importante número a esta temática, no
qual nomes notáveis da ciência, nacionais e estrangeiros, deram a conhecer
problemas fundamentais da investigação e da intervenção da Psicologia do
Tráfego. Ao longo dessa década, os Professores Doutores António Barros, Jorge
Santos e Manuel Matos salientaram-se, no panorama português, pelo rigor dos
seus trabalhos.
Pretendemos agora dar expressão a um conjunto de artigos científicos que
delimitam o seu tema central numa dimensão particular da Psicologia do Tráfego,
a saber os comportamentos de risco realizados no âmbito da tarefa de condução.
Conjugando interesses e conhecimentos tradicionalmente abordados na psicologia
clínica, os textos agora editados abordam comportamentos e atitudes, aspectos
simbólicos, reacções humanas de exposição gratuita ao risco e sua prevenção,
assumindo aspectos vastos mas determinantes da natureza consciente e
inconsciente do Ser-Humano. É por esta razão que adoptámos como título deste
número especial deAnálise Psicológicaa designação de" Comportamentos de
risco e tarefa de condução", e por sabermos que a profundidade subjacente
aos conhecimentos analisados nestes estudos, que exibem na generalidade uma
surpreendente e louvável reflexão, se enquadram talvez já num campo muito
particular da Psicologia do Tráfego. Reflexo, acreditamos nós, do progresso e
desenvolvimento científico que procuramos expandir.
Existem tarefas e objectos na vida do Ser-Humano que adquirem ao longo do seu
desenvolvimento uma tal dimensão que fora do seu contexto histórico e temporal
se tornam difíceis de compreender. Certamente que o automóvel e a tarefa de
condução se tornaram inequivocamente um dos melhores exemplos desses fenómenos.
Procurar compreender a forma como este objecto é vivido e agido na vida humana
é porventura o propósito que move todos os autores apresentados nesta edição.
O presente número serve como complemento de objectivos vastos, que têm
resultado na reunião de esforços entre linhas de investigação em Psicologia
Clínica doInstituto Superior de Psicologia Aplicadae de uma vasta equipa de
profissionais da Prevenção Rodoviária Portuguesa.
Na sua base encontra-se a realização em Outubro de 2003 dasII Jornadas da
Psicologia do Tráfego, onde múltiplos especialistas debateram problemáticas
decorrentes deste tema mais abrangente. O estudo de comportamentos de risco na
condução, a sua avaliação psicológica e a prevenção primária e secundária com
populações de adolescentes e adultos transgressores são algumas das
delimitações possíveis no enquadramento dos artigos agora propostos.
Enquanto organizadores sentimo-nos particularmente agradados com a edição deste
número especial deAnálise Psicológica. Primeiro, porque ele nos parece dar, num
primeiro plano, expressão bem visível a trabalhos que, conjugando investigação
e intervenção clínica, se encontram já numa fase de maturidade relevante;
depois, por acreditarmos que ele pode vir a ser um contributo estimulante para
o desenvolvimento científico.
RUI ARAGÃO OLIVEIRA