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Normas de Transcrição

SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO UTILIZADO

1 - Todos os nomes de pessoas, ruas, locais, empresas, instituições, entidades, etc., que permitam identificar qualquer um dos participantes, são elididos, no sentido de salvaguardar a sua privacidade, substituindo-se pela expressão NOME, LOCAL, NÚMERO, RUA, EMPRESA, MODELO, PATENTE, etc.

3 - Todas as referências, que envolvam números e quantificadores, são grafadas por extenso.

2 - A ocorrência de um traço não linguístico ou não verbal é marcada através do uso de chavetas. Por exemplo: {A sai da sala}; {B tosse}; {C ri}; {D mexe nos papéis}; {E entrega documento a F}.

4 - Todos os ruídos, ainda que de diferente tipologia (porta que se abre; passos; cadeira que arrasta, etc.), que não afetam diretamente o decurso da audiência e que não estão relacionados com a informação trocada entre os participantes foram uniformemente assinalados através da expressão {ruídos}.Os sussurros, embora de natureza verbal, são também grafados entre chavetas, por serem de autoria desconhecida.

5 - Todo o tipo de vocalizações curtas, comummente apelidadas de marcadores de hesitação e habitualmente produzidas para o preenchimento de pausas, foram uniformemente assinaladas através da expressão: eh::

6 - Todas as sílabas, palavras, expressões pronunciadas com tom de voz mais alto e/ou mais forte e/ou mais irritado são transcritas em MAIÚSCULAS.

7 - Todas as sílabas, palavras, expressões pronunciadas em voz baixa, quase inaudível (embora compreensível) são sublinhadas a linha tracejada.

8 - Para indicar a ocorrência de uma palavra, expressão ou segmento de frase inaudíveis ou incompreensíveis, é utilizado o sinal de duplos parênteses curvos com 3 espaçamentos no interior, como se vê no exemplo: (( )).

9 - As pausas ou silêncios mais prolongados (7 segundos ou mais) são assinalados por: (…) seguidos de um número que indica os segundos; as pausas ou silêncios médios (3-6 segundos) são assinalados por: (..); as pausas ou silêncios curtos (2 segundos ou menos) são assinalados por: (.).

  1. E depois (…)0.8 o táxi apareceu.

10 - O sinal > é utilizado para indicar as autocorreções ou as digressões dos falantes. O seu aparecimento dá-se imediatamente após o momento em que o falante para abruptamente o seu discurso. Essa autocorreção ou digressão poderá dever-se a:

  1. um lapso lexical, isto é, de vocabulário, como acontece no exemplo: “eles disseram que a firma > a companhia de seguros...”;
  2. uma mudança brusca da construção da frase, como no exemplo seguinte: “eu só queria > o senhor agente da autoridade disse...”;
  3. uma digressão, ou seja, um aparte que o falante decide introduzir no seu discurso, como ocorre em: “e depois a menina > porque ela ainda é uma criança, não é?
  4. uma repetição, na procura da formulação mais adequada: “O senhor foi o autuante > o:: > o:: > o agente da PSP que foi autuante…”

11 - Utiliza-se o sinal = para marcar a não ocorrência de pausa entre dois turnos de fala consecutivos, provenientes de 2 falantes distintos. Por exemplo:

  1. E portanto eu não sei o que dizer=
  2. =Mas eu sei, mas eu sei.

12 - O recurso aos parênteses retos indica sobreposição do discurso de dois falantes distintos. Essa indicação surgirá assinalada no discurso dos 2 exatamente onde ocorre, como no exemplo:

  1. Nessa altura, deveriam ser umas sete [ horas
  2. _______________________________[ sete horas? Impossível!

13 - O sinal / é usado para indicar uma intervenção não terminada (mas não interrompida), que ocorre quando B aproveita uma pequena pausa no discurso de A para conquistar o turno de fala seguinte. Exemplo:

  1. E nesse caso, portanto /
  2. Eu sei o que devo fazer.

14 - Nos casos em que A retoma ainda, no turno seguinte, o seu discurso, que tinha ficado em suspenso, assinala-se essa continuação com o sinal \ no início da intervenção de A, mas iniciando essa intervenção por baixo do ponto em que tinha ficado suspensa, como se vê no exemplo:

  1. E nesse caso, portanto /
  2. Eu sei o que devo fazer.
  3. ___________________\ sabes o que tens a fazer.

15 - Os ‘reguladores verbais’, ou seja, as pequenas vocalizações de assentimento que um falante B vai pronunciando (à medida que o falante A vai produzindo o seu discurso) para lhe comunicar que está a seguir o raciocínio, como sejam: hum-hum; exato; claro; pois; sim, etc., são colocados sob o discurso de A, no local exato em que são pronunciados, entre barras verticais. Veja-se o exemplo:

  1. Certo. Então se quiser ter a bondade /
  2. ______________________________|okay|
  3. ___________________________________\ de nos ler a carta.

16 - Nos casos em que o ‘regulador verbal’ ocorre em sobreposição ao discurso de A, assinala‑se a presença do regulador e a ocorrência de sobreposição, como se torna visível no exemplo:

  1. Caso vossa Excelência se decidisse nesse sen[tido /
  2. __________________________________________[|sim|
  3. ______________________________________________\ poderia ditar a sua saída.

17 - Assinala-se com o sinal // a interrupção brusca do discurso de um falante, sem sobreposição de falas, e quando o falante interrompido não prossegue o seu discurso:

  1. E mora onde?
  2. Rua da Liberdade, lote 10, nº //
  3. Quantos vizinhos tem?

18 - Palavras escritas entre parênteses, como por exemplo (seria), indicam que há dúvidas na identificação da palavra.

19 – Para assinalar curvas entoacionais mais marcadas, usam-se os sinais: ↓; →; ↑

  1. O sinal ↓ indica uma entoação descendente, significando o final de uma unidade (segmento ou frase).
  2. O sinal → indica uma entoação de continuidade, significando que o locutor vai, provavelmente, continuar o seu discurso (ainda que, depois, não o faça).
  3. O sinal ↑ indica uma entoação ascendente, significando que o locutor deseja que o interlocutor tome a palavra a seguir.

20 - O prolongamento de um som, vocálico ou consonântico, no final da palavra, foi assinalado através do sinal ::. Por exemplo: “ela::”; “senhor doutor::”; “eh::”

21 - Recorreu-se ao hífen para marcar a truncação de palavras. Por exemplo: “eles di-”.

22 - As sílabas, palavras ou expressões pronunciadas com um débito muito rápido, quase omitindo sons, foram transcritas em itálico.

23 - Todas as sílabas, palavras, expressões pronunciadas de modo lento, quase ou até soletrado, foram transcritas entre «aspas».

24 - Os momentos em que os falantes citam o discurso de outrem na sua própria intervenção foram assinalados com “ ”. Observe-se o exemplo:

  • E ela disse-me: “Olhe, era para pedir informações sobre o apartamento.”

25 - Quando, no campo “ID”, surge um ponto de interrogação junto da identificação do falante, significa que não foi possível reconhecer o autor do enunciado.

  • A? (00.50) – Sim, sim.

26 - De modo a assinalar episódios agramaticais, recorreu-se ao uso da expressão latina sic, conforme o exemplo abaixo:

  • “Há quartosic anos.”

27 - Todas as palavras ou expressões em língua estrangeira surgem entre tiles:

  • Na altura, tirei um ~screenshot~ ao telemóvel.